quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Para vítimas da Cracolândia e para o Imperador.

Reservadas as proporções, estamos diante do mesmo drama. Pessoas que encontram nas ruas e nas drogas uma alternativa para a “sobrevivência” precisam de ajuda, é claro isso. Ninguém está ali mutilando sua própria existência sem que haja uma doença, um trauma, uma desconexão entre o lógico e o irreal. As mãos fortes da repressão precisam dar espaço às mãos afáveis do questionamento: como evitar que esse ciclo continue? E não basta perguntar, é preciso fazer. Traço, aqui, um paralelo com o Imperador, Adriano.
Alguém, em sã consciência, abandonaria a vida em Roma para trajar-se como um “Rambo rebelde” nos morros da Vila Cruzeiro no Rio de Janeiro? Quem de nós trocaria a certeza de bons contratos – que ele merece pelo futebol que já mostrou que tem – por um contrato de risco no Brasil, sem a certeza de que pode sozinho, manter-se de pé?
“Eu sou forte e vou dar a volta por cima” foi trecho da declaração de Adriano momentos depois de fazer o seu gol na reta decisiva do Brasileirão do ano passado. Gol único, única certeza: ele é realmente forte. Talvez, o atacante com mais chance de vencer um “jogo de corpo” com a zaga adversária, em todo o país. Mas a força física não é a força de que Adriano mais precisa agora. Ele precisa, na verdade, que lhe estendam a mão.
Agressão à namorada, o tiro dentro do carro dele, o fato de dirigir embriagado, a dificuldade para perder peso, a briga para manter-se longe das páginas policiais. Basta um mínimo de sensibilidade para perceber que o império está ruindo. Adriano, sozinho, vai perder essa batalha.  Não devemos virar as costas para as vítimas da Cracolândia. Elas vão arrumar outro esconderijo para a alto-mutilação. Se virarmos as costas ao Imperador, a Vila Cruzeiro o aguardará de braços abertos. E lá, o futuro incerto se transformará rapidamente num futuro inexistente.

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