Será o adeus de Ronaldo ?

Eu tive a felicidade de acompanhar de perto a passagem de Ronaldo pelo Corinthians. Em Presidente Prudente, pude testemunhar a torcida se emocionar com a presença de Ronaldo no banco de reservas e sua ansiedade por entrar no jogo. Entrou e fez gol. E fez gol e comemorou com a torcida. E comemorou com a torcida e derrubou o alambrado, como quem derruba uma barreira: estava nos braços da galera.
Como repórter, tive a felicidade de ter sido o primeiro a entrar no campo e tentar uma declaração dele. Ele não falou, esperou o amigo (meu e dele) Mauro Naves chegar para, aí sim, começar uma respeitosa mini-coletiva. E falou, com todos, sem exceção. Primeiro os amigos, não julgo isso. Aliás, julgo sim. Não há sentimento mais especial do que gratidão. Ronaldo estava sendo grato à um amigo, entendi.
Depois de Ronaldo, mudou muita coisa no futebol brasileiro. O acesso da imprensa, muitas vezes descontrolado, no campo, passou a ser controlado. Quando um time é campeão, com algumas excepecionalidades, respeita-se aquele momento único na vida do atleta. Foi o próprio Ronaldo quem usou os microfones da imprensa para pregar isso e para nos dizer que estávamos atrasados em relação ao futebol do primeiro mundo. Vimos e estamos mudando.
E Ronaldo ajudou a levar o Corinthians ao topo. Fez do time aquele que mais arrecadou no ano passado. Levou a imagem da equipe aos quatro cantos do planeta. Mas foi vítima de uma perseguição centenária. Não tem 100 anos de vida, mas o centenário sem libertadores pesou nas costas dele. Exatamente como ele havia pedido nos momentos mais difíceis. "Livre os mais jovens, jogue nas minhas costas porque tenho costas largas".
Pena que seja assim. O atacante de costas largas, maior artilheiro da histórias das Copas do Mundo, deve dizer adeus. O futebol fica mais triste sem Ronaldo. Para alguns, fora de forma, acima do peso. Para outros, um diferenciado. Mas é como dizem: pelo futebol não se perdoa. Só que eu penso o seguinte: Até esses que não perdoam, um dia podem se arrepender.